Houve um tempo que qualificar as pessoas era apenas uma brincadeira. Não havia penalidade. Caso se queixasse do comportamento alheio, a pessoa poderia ser excluída ou taxada de ignorante. Há dois dias me pego a pensar nisso. A cena ainda me consome, ultimamente, não faço outra coisa, a não ser ruminar aquela história. Sim! Uma história real.
Na praça do governador, havia uma agitação durante o dia, algumas pessoas teimavam em recriminar um casal. Os sons das palavras me fizeram parar, de início, como um curioso, pois, naquele local, sempre acontecia apresentação teatral. O palco era para iniciantes nas artes, alunos das escolas do município e atores consagrados.
Mesmo com o tempo curto, resolvi assistir um ato, talvez estivesse iniciado há pouco tempo. Os diálogos pareciam de uma teça temática. A imposição das vozes e o texto eram fortes. Lembrou-me da ditadura. Se for, não me atrai muito. Não gosto de escolher um lado. Há momentos que acredito que é preciso limitar o poder dos governantes, outras, penso que é preciso oprimir o povo para valorizar a democracia.
Enfim, foi ao encontro do espetáculo cultural. De longe, não havia figurinos de época. Os atores usavam calças, camisetas e nas mãos uma Bíblia. Será religioso o tema do teatro? Tentei percorrer pelo cenário, em movimentos curtos, tentando fazer silêncio, aproximei e a cada frase meu corpo se arrepiava e me senti estranho, não parecia nada cultural. Se for, não compraria ingresso para assistir as cenas de preconceito.
Não eram atores. Não havia cadeiras para a plateia. Não tinha música de fundo ou um cenário criativo. O que havia, eram pessoas matando aos poucos um casal. Eram dois homens apaixonados a se divertir com o filho. Sempre acreditei na Bíblia e em seus ensinamentos. Uma pena usá-la como uma arma para matar o outro. A criança chorava, sem saber o motivo. O casal teve que ser escoltado pela polícia e tiveram seu direito violado.
Ninguém fez nada. Eu não fiz nada. Neste dia em diante, percebi o quanto as palavras matam e não fazer nada é o mesmo que validar essas ações.